História de Russas
Adriana Ribeiro de Lima1
Russas está localizada a 162 km da capital do Ceará, Fortaleza, sendo suas principais vias de acesso a rodovia Federal Santos Dumont, BR-116 e a CE 356 que liga Russas ao estado vizinho, Rio Grande do Norte. Limita-se com os municípios de Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Morada Nova, Beberibe, Palhano, Quixeré e juntos fazem parte da microrregião do Baixo Jaguaribe. Segundo dados do IBGE em 2010 a população do município era de 69.833 habitantes, com uma estimativa de 75.762 habitantes para 2016. Sua área territorial é de 1.590,258 km², dividida em seis distritos: Russas (Sede), Bonhu, Flores, Lagoa Grande, Peixe e São João de Deus.
A origem do topônimo Russas possui diferentes versões. A primeira versão e mais conhecida entre a população é a de que por essas bandas havia um homem chamado Bernardo, e que este tinha um vistoso lote de éguas de cor ruça que admirava a todos que passavam por aqui por sua uniformidade da cor encarnada, sendo batizadas de éguas russas.
Outra versão provável é que os viajantes que faziam a rota passando pelo Vale do Jaguaribe comercializando seus produtos, ao avistarem um conjunto de trinta pedras de granito branco com marcas vermelhas, com cerca de 3 a 5 metros de altura, de longe, tinham a impressão que se tratava de um lote de éguas de cor ruça e diziam: “estamos chegando às ruças”.
Na sequência chegamos a uma teoria que ganhou muita força a partir dos estudos do Prof. Studart Filho, onde ele observa com bastante coerência que há a possibilidade de que os primeiros moradores de Russas fossem provenientes de Pernambuco, especialmente da chamadaSerra Russas. Assim, passaram a chamar as novas terras de Russas em homenagem a sua terra natal.
Russas é uma das únicas cidades do sertão brasileiro que se originou de fortificação militar. Localiza-se dentro do então território pertencente aos índios Potiguar, Paiacu, Jenipapo e Canindé. A região começou a ser colonizada por Portugueses e seus descendentes oriundos da Bahia e Pernambuco em meados de 1690.
No século XVII os índios da região fizeram grande resistência à invasão dos portugueses e suas iniciativas econômicas. Era a chamada Guerra dos Bárbaros. Diante deste cenário é construído em 1701, a primeira fortificação militar no sertão cearense, o Forte Real de São Francisco Xavier da Ribeira do Jaguaribe. Este núcleo militar, que segurava 150 currais de gado, demarcou oficialmente o início da povoação europeia em Russas. Depois a localidade consolidou-se e desenvolveu-se como entreposto dos vaqueiros que traziam gado do Icó para negociar no porto de Aracati, na época do ciclo da carne de charque
A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário começou a ser construída em 1707, por doação de sesmaria, sendo o templo mais antigo construído no interior do estado. O rei de Portugal encarregou da definição do terreno o desembargador Cristóvão Soares Reimão. Este demarcou as terras perto do antigo Forte que sucumbiu ao tempo e aos ataques dos índios jaguaribanos, que apesar de aguerridos, foram sumariamente desaparecendo ou sendo introduzidos nos trabalhos das fazendas de criação de gado.
A divisão das terras partiu do princípio de que o rio e a vegetação ali existentes eram meios facilitadores para sobrevivência e criação do gado, responsável pela colonização do interior do Brasil. A formação do espaço colonial e o redesenhar da paisagem do baixo Jaguaribe a partir das fazendas de criar, inseriu a região em um complexo comercial. A criação de gado foi um elemento novo que passou a compor não só a paisagem como também as relações sociais.
Após passar por categorias como povoado e freguesia, em 06 de agosto de 1801 a freguesia é elevada à categoria de vila, em documentação assinada pelo primeiro governador da Província do Ceará Bernardo Manuel de Vasconcelos, que no ofício de elevação à Vila a denominou de Vila de São Bernardo do Governador, no entanto, a população chamava de São Bernardo das Russas. O povoado ao ser elevado a categoria de Vila recebia todos os status e aparelhos administrativos de representação do Estado. A Vila foi elevada à cidade por lei provincial de 09 de agosto de 1859. A denominação de simplesmente Russas, só veio oficialmente em 1937.
A sede do município de Russas, só começou a ser de fato povoada e fortalecida a partir da década de 1940, com vários serviços do Estado sendo definitivamente implantados, assim como a educação e a saúde fomentados a partir de então. Tornou, o nosso campo, antes berço e moradia da elite política, ver-se substituída pelos novos ventos do liberalismo capitalista e a mudança do núcleo político/econômico migrar do campo para o centro do município.
A cultura do povo russano é observada em seus fazeres e práticas cotidianas, como trabalhos artesanais com barro, palha da carnaúba, tecido, bordados, instrumentos de manejo de caça, pesca, agricultura e pecuária, brinquedos populares, bem como as produções artísticas ligadas à música, dança, teatro, cinema e à culinária, com seus pratos típicos oriundos da herança indígena, africana e portuguesa. Dos indígenas recebemos o nome de plantas (ipecacuanha, mussambê, ameixas e tantas outras), assim como o nome das atuais cidades do Vale do Jaguaribe: Jaguaruana, Aracati, Itaiçaba, Icapuí, Jaguaretama, Quixeré, Jaguaribara, Ibicuitinga etc. Além de nossa predileção alimentar com base nos produtos de origem da agricultura (mandioca, milho e feijão), ou mesmo, nos modos de dormir de rede, trabalhar o barro, entrançar as palhas da carnaúba pra fazer esteiras, chapéus, bolsas, bornais, cestos entre outros utensílios.
Com sua história sempre marcada pela presença da igreja católica desde a colonização, tanto na sede como nas comunidades rurais, a igreja católica aparece como representação da cultura do povo e como parte das atividades de lazer e sociabilidade durante a festa do padroeiro, que ainda hoje, integra boa parte dos moradores de cada comunidade.
As formas de diversão e lazer do povo estão ligadas as festas de clube e religiosas além de várias manifestações populares: Violeiros, Grupos de Quadrilhas, com destaque para o Grupo Benjamim Constant, Grupo de Teatro OFICART, Bumba-meu-boi dos quais se destacaram o Boi Pai do Campo e o Boi Russano da localidade rural de São João de Deus. Um fato marcante da vida social e cultural da cidade é a presença de várias bandas e grupos musicais que animam as principais festividades da região.
Favorecida pelo fértil solo do Vale do Jaguaribe, Russas foi primeiramente palco do ciclo do gado, depois da cultura do algodão, posteriormente da extração da carnaúba, tendo sido o maior produtor de cera de carnaúba do mundo, com a instalação no município de estações de plantação e extração da cera pela empresa Jonhson S/A.
Nas décadas de 1970 e 1980 com o ciclo da irrigação tivemos o cultivo da laranja. Esta lhe rendeu o título de "Terra da Laranja", pois se criou uma verdadeira marca para a laranja da região, a "Laranja de Russas" nacionalmente conhecida. Atualmente, além da laranja, há cultivo de melão, melancia, banana, goiaba, uva, dentre outras frutas para exportação. Na fruticultura local ocorreu um salto quantitativo e qualitativo com a expansão do Perímetro Irrigado Tabuleiro de Russas, um dos maiores do país.
O Projeto Irrigado Chapadão de Russas foi criado para potencializar a economia e torná-la uma das mais prósperas do Nordeste. É o maior projeto irrigado do Nordeste juntamente com o perímetro irrigado do Vale do São Francisco. O projeto Tabuleiro de Russas possui 20 mil hectares de área irrigável. O perímetro irrigado Tabuleiros de Russas está localizado nos municípios de Russas, Limoeiro do Norte e Morada Nova, mais precisamente no baixo Vale do Jaguaribe, na chamada zona de Transição Norte dos Tabuleiros de Russas. A área é constituída por uma faixa contínua de terras agricultáveis ao longo da margem esquerda do Rio Jaguaribe, entre a cidade de Russas e a confluência do rio Banabuiú, região nordeste do Estado do Ceará.
Atualmente possuem grande representatividade no desenvolvimento econômico do município: o comércio local, bastante variado, a Indústria de Calçados Dakota Nordeste e as empresas de Cerâmica com a produção de telhas e tijolos.
Na Educação, destacando o ensino superior, o Campus da UFC, que teve suas atividades iniciadas em 28 de julho de 2014, já tem um impacto considerável na dinâmica social local com a oferta de 05 cursos de graduação: Engenharia de Software, Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Engenharia Mecânica e Ciência da Computação. Certamente, o Campus representa um marco na história de Russas, que sendo um município de povo acolhedor estará de braços abertos para receber a todos os estudantes e profissionais que aqui chegarem.
1. Gradada em História pela Universidade Estadual do Ceará – UECE, Mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará – UFC, Professora efetiva da rede municipal de Russas, Coautora do livro didático Construindo e Descobrindo Russas: História e Geografia, Coautora do livro: Viagem ao nosso interior: imagens e culturas de Russas - CE. Pesquisadora da História local, atualmente realiza estudos sobre culturas tradicionais nas áreas rurais do município de Russas.
Referências
IBGE: http://cidades.ibge.gov.br
Russas: https://pt.wikipedia.org/wiki/Russas
ARAÚJO, Con. Pedro de Alcântara. Capital e Santuário: miragens, russano -nordestinas. Imprensa Oficial do Ceará. Fortaleza, 1986.
LIMA, A. R.; SILVA, F. V; JUNIOR, H. A; SILVA, L. M. Descobrindo e Construindo Russas: História e Geografia. Fortaleza : Edições Demócrito Rocha, 2012
LIMA, A. R; JUNIOR, H. A; SILVA, L. M. Viagem ao nosso interior: imagens e culturas de Russas - CE. Fortaleza: Pouchain Ramos, 2014.
ROCHA, Limério Moreira. Russas 200 anos de Emancipação Política. Ed. Fortaleza Banco do Nordeste, 2001.
Fotografias: Diego Ferreira